Publicado em 1905, esse romance raro transforma o hospício em metáfora, o delírio em lucidez e o isolamento em resistência.

Publicado em 1905, No Hospício é uma obra única no cenário da literatura brasileira finissecular, uma joia rara do simbolismo em prosa. Nela, Rocha Pombo desafia as fronteiras entre loucura e lucidez, realidade e ideal, ciência e misticismo. Fileto, personagem central, é internado por sua família não por insânia genuína, mas por recusar os valores burgueses.
No confinamento, cria uma “estufa espiritual” onde pode florescer longe da mediocridade do mundo. Ecoando Gérard de Nerval e Huysmans, o romance é antes de tudo um ensaio poético, um tratado metafísico, um manifesto espiritualista. Sua estrutura se desenrola como um palimpsesto de textos e reflexões, um romance-biblioteca onde convivem Goethe, Swedenborg, Tolstói, Carlyle e Dostoiévski.
É o delírio lúcido de um homem que decide permanecer na clausura para salvar sua integridade espiritual. Crítica feroz à sociedade positivista e racionalista da virada do século, No Hospício antecipa utopias socialistas à la Tolstói e Fourier, e projeta uma Cidade Futura sem Estado, regida pela cooperação e pelo trabalho criativo.
Rocha Pombo tece com lirismo e precisão uma obra que condensa o naturalismo espiritualista em sua forma mais pura꞉ não a submissão ao determinismo, mas a busca pela redenção da alma. Mais do que um romance, No Hospício é uma convocação à transcendência. Um livro para espíritos inquietos.

***

RESUMO

Narrada a partir da perspectiva de um jovem fascinado por um misterioso internado, Fileto — figura de vastíssima cultura e lucidez desconcertante —, a trama se passa num hospício que se revela menos como instituição médica e mais como metáfora de um mundo à parte, uma “estufa” onde florescem ideias, visões e recusas. Internado por contrariar os valores burgueses de sua família, Fileto representa o espírito que prefere o isolamento à rendição. Por meio de longos diálogos, fragmentos de cadernos e textos filosóficos, Rocha Pombo constrói um romance‑ensaio que desafia fronteiras entre ficção e pensamento, loucura e lucidez, ciência e misticismo. A narrativa questiona a normalidade social e afirma a vida espiritual como forma de resistência. Uma utopia se delineia nas páginas꞉ A Cidade Futura, onde não há Estado nem propriedade, apenas trabalho coletivo e cultivo da alma. No Hospício é uma obra de culto, esquecida por décadas, que volta à luz como símbolo do inconformismo e da liberdade interior.

No Hospício
Rocha Pombo (1857-1933)
Revisão de Ivan Justen Santana
Curitiba: Schwarzbrunn/Anticítera
2025.
248 páginas
16X23 cm

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *