Um desconhecido poeta do simbolismo

Necrotério d’Alma, publicado em 1905 pelo jovem poeta Cícero França, é uma obra que desafia os limites da poesia simbolista com sua profundidade sombria e visceral. França, que faleceu tragicamente aos 24 anos devido à tuberculose, deixou um legado poético de rara intensidade, que foi resgatado em 1953 por Vespertino Marcondes de França. Nessa nova edição, Vespertino adicionou poemas inéditos da coleção Pedras Brutas e sonetos inacabados, além de três novos sonetos, enriquecendo ainda mais o livro.

O que torna Necrotério d’Alma uma leitura impactante é a sua abordagem crua e perturbadora da existência. Em vez de focar na decomposição do corpo, como faria Augusto dos Anjos anos depois, França se debruça sobre a decomposição da alma — uma alma viva, mas já condenada à putrefação pelo tédio existencial e pela dor metafísica. Seus sonetos são como autópsias poéticas, desnudando uma mente atormentada por uma desilusão profunda, um pessimismo avassalador e uma tristeza que consome o ser.

A obra ecoa a força de grandes nomes como Baudelaire e Cruz e Sousa, mas com uma originalidade que impressiona. Necrotério d’Alma está carregado de imagens grotescas e bizarro-impressionistas, criando uma atmosfera tão intensa quanto o spleen baudelairiano, mas com um toque de morbidez quase cirúrgico. França disseca, com precisão, a decadência espiritual e física de seus personagens, em versos cheios de musicalidade e lirismo sombrio.

Para leitores que buscam algo mais profundo e desafiador na poesia simbolista, Necrotério d’Alma é uma experiência única, que reflete nossa sombria condição humana com uma força estética inigualável.

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