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Publicado em 2001 e 2004 de forma artenasal, Teatro dos Mortos ganha nova edição.
Há livros que sussurram. Outros gritam. Teatro dos Mortos rasga.Cada poema deste volume é uma cena arrancada à carne do tempo, uma partitura escrita com sangue e ruína. O poeta não oferece consolo, não acena com redenção, não alimenta esperanças vãs — ele desce ao porão da linguagem do inferno e acende fósforos diante dos cadáveres que somos. O livro funciona como um tríptico necrológico da modernidade꞉ um inventário das ruínas do urbano, da subjetividade e da linguagem. E o poeta opera como um espectador embriagado do colapso, um flâneur entorpecido,
mas também como artífice da lucidez. A escrita é sismógrafa do desmoronamento social e simbólico — não como denúncia moral, mas como coreografia estética da falência, da morte. A cidade, o corpo e a palavra — três entidades exaustas — são os eixos alucinados desse teatro. No primeiro ato, vemos desfilar a decadência urbana꞉ ruas de concreto ferido, olhos de vidro, mendigos de sentido, neon‑fantasmas.
No segundo momento, o delírio íntimo꞉ o amor como vertigem, o erotismo como vício de abismo, o desejo como veneno alquímico, resumidamente꞉ loucuras poéticas. Por fim, no terceiro movimento, o palco desaba sobre o poeta꞉ tudo é ruína, tudo é caco, tudo é eco e morte. Ainda assim, a poesia canta. O poeta que tem horror a poesia, constrói sua obra como quem ergue um mausoléu — um espaço de luto, mas também de festa macabra. Há humor negro, delírio profético, imagens que se contorcem entre o grotesco e o sublime numa dicção que funde o grotesco ao místico, o existencial ao político, o ritual ao sarcasmo.
Sua poesia não busca metáforas꞉ ela as dilacera, queima com sadismo. E do carvão imagético que resta, extrai uma lírica feroz, profanadora, muitas vezes brutal, que transita entre o poema em prosa, a profecia alucinada e a sátira escatológica.
Ler este livro é como assistir a uma peça em que os personagens não têm salvação, principalmente o poeta e o público não tem saída. Resta apenas o gesto — violento, alucinado, lúcido — de dizer. De cantar, mesmo na boca do abismo. Teatro dos Mortos é isso꞉ uma liturgia da decomposição, uma tragédia sem catarse, um evangelho de vermes e vísceras onde, por um segundo que seja, a poesia ainda respira. E, acima de tudo, é um nada.
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Teatro dos Mortos
Claudecir de Oliveira Rocha
ISBN 978-85-69199-46-5
16X23 cm
244 páginas