Cães e Astromélias

PRÉ-VENDA
disponível a partir da primeira quinzena de agosto

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Neste Cães e astromélias, Mariana Machado, num sutil paradoxo, ao cobrir-se com os seus véus de astúcia poética, revela mais do que oculta. O recurso da máscara é um lugar-comum na poesia, por isso é mais perigoso ao ser posto em prática, contudo, a autora não cai nessa armadilha. Ao contrário, faz do disfarce-desvelamento um método. E nesse compasso é possível dizer que este livro é uma trajetória de vida. O leitor tem todo o direito de perguntar — e qual não é? Com certeza, alguns não são. Aqui, do primeiro ao último poema, os acidentes dessa topografia íntima de MMF perfazem uma unidade de um caminho existencialmente lírico. As idas e vindas temáticas, as sinuosidades formais e linguísticas, a angulação matizada sobre o conteúdo etc., são elementos que desenham um mapa no qual vivência e lirismo são os seus delineadores, e, para isso, andam de mãos dadas. Traumas ou delícias de infância, memórias de família, revisitações inusitadas do cotidiano, o encontro amoroso em seu grau mais alto, que fulgura nesta síntese camoniana perfeita: “é preciso amar o amor além do amado”, estas e tantas outras matérias aliam, num invulgar equilíbrio, coloquialismo e refinamento linguístico. Não obstante, esse olhar atento à cotidianidade indica outro patamar mais profundo do real — o incômodo da condição metafísica humana. O desassossego de ser e estar no mundo é um “navegar sem terra à vista”, porque se, às vezes, o “coração é alívio./ O corpo, não.” E Mariana parte, quase sempre, de situações ordinárias para revê-las numa clave mais ampla, por exemplo, o vislumbre lírico de uma borboleta se transfigura em meditação filosófica sobre o tempo, com raro requinte imagético-musical: “Quatorze sóis dão conta do teu rastro/ e em duração de flor a valsa é curta.” A sensibilidade que norteia todo o livro conjuga aspereza, ternura e ironia, também retoma a melhor lírica amorosa repleta de farpas, que tem Lélia Coelho Frota como uma das melhores representantes na tradição literária brasileira. Repito: Cães e astromélias é um percurso liricamente existencial que mantém sua unidade por meio de um embate de tensões vividas de corpo e alma.

João Filho

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3ª LUGAR NO PRÊMIO ALPHONSUS DE GUIMARAENS, DA BIBLIOTECA NACIONAL, EM 2022.

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Cães e astromélias
Mariana Machado
2º ed.
Curitiba, 2025.
128 páginas
16X23 cm
ISBN 978-85-69199-48-9